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PROFECIAS, APOCALIPTICISMOS E SENSASIONALISMO CRISTÃO

PROFECIAS, APOCALIPTICISMOS E SENSASIONALISMO CRISTÃO

A história humana é repleta de pessoas dotadas de uma capacidade divinatória mais acentuada, a qual decorre de muitos fatores: 1) capacidade de observação mais acurada, 2) maior conhecimento da ética, da política, da história, dos movimentos dos grupos de poder etc.; 3) penetração psicológica mais refinada; 4) outros fatores de ordem natural, preternatural ou sobrenatural. No fundo, muita coisa está misturada e o purismo, nestes casos, acaba por ser mais prejudicial do que favorecedor.

Quando comenta a virtude da prudência, São Tomás diz que a previsão (providentia) é uma de suas partes integrais (ST II-II, 49, 6), e obviamente todos queremos ter uma visão privilegiada, antecipada, dos fenômenos, e não é absurdo que queiramos obter de Deus ou de pessoas mais instruídas algum “adiantamento” do que pode vir para estarmos melhor preparados.

O problema é quando se perde a moderação. Então, de um lado, a curiosidade se alia à insegurança e dá espaço à morbidez: as pessoas vivem atrás de “profetas” e “adivinhadores” para receberem, dos mesmos, “profetadas” (termo do jargão evangélico contemporâneo – o tal “crentês” – que se refere a pseudoprofecias); de outro lado, multiplicam-se os palpiteiros, os visionários, os pretensiosos, os emocionados, os exaltados, os presunçosos, enfim, aqueles que vêem uma mariposa na janela e inventam uma teoria mística que conecta o preço da sardinha com a posição da cama do Bin Laden. E tem gente que acredita piamente nisso tudo!…

Obviamente, entre esses extremos existem fenômenos muito mais respeitáveis, muitas vezes protagonizados por pessoas sinceras, equivocadas ou não, e é muito difícil orientar-se dentro dessa balbúrdia babilônica.

A multiplicação de mensagens, aparições, profecias, associadas com um sensacionalismo apocalipticista, que assimila tudo numa narrativa escatológica aterrorizadora, paralisa muitas pessoas num medo asfixiante. Abatidas e indefesas – afinal de contas, o que se pode fazer se estamos às beiras da manifestação da besta-fera? –, os fieis se entregam ao pânico e se dão a comportamentos excêntricos, como armazenamentos obsessivos, fixação em notícias ruins e superfoco em coisas supostamente sobrenaturais.

A mentalidade catastrofista tem penetrado em muitos ambientes católicos e nisso há um grande potencial de frustração, pois, em se não cumprindo tais predições, as pessoas acabam por se render à mais confessa incredulidade, visto que se sentiram enganadas por um suposto dom verdadeiro, mas que as fez tomarem decisões com base em prognósticos falhos, deixando-as com o prejuízo do investimento numa desgraça não acontecida.

Como os dias são maus e o cenário desolador, alguns pregadores se deixam facilmente impressionar pela ausência de luz no fim do túnel e se dão por arautos do Armagedom, tão imprudentes quanto delirantes, e, num juízo tão precipitado quanto desastrado, terminam por se envolverem no engano, conduzindo muitos a perderem sua fé na Igreja e sua esperança em Deus.

Fato é que Cristo não nos enviou para fazermos previsões do futuro. Acerca dos tempos escatológicos, proibiu severamente de especular sobre o assunto, pois, “daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos que estão no céu, nem o Filho, senão o Pai (Mc13,32). Na prática, o ensino de Jesus é que nos ocupemos com nosso trabalho e o nosso apostolado até que ele venha: “estando dois no campo, será levado um, e deixado o outro; estando duas moendo no moinho, será levada uma, e deixada outra. Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor (Mt 24,40-42). Estar no campo ou no moinho significa estar no trabalho missionário (campo) ou na meditação (moinho) no dia e na hora em que o Senhor vier.

São Paulo, mesmo, afirmou que “Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã. Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus (1Cor 1,17-18).

E, aos Tessalonicenses, alarmados por uns escatologistas desesperados, São Paulo exorta: “que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto” (2Ts 2,2).

A Parusia pode acontecer a qualquer momento, mas, quando Jesus voltar, quero que ele me encontre ganhando almas para ele, pregando o Evangelho da redenção pela sua Cruz, a eficácia da sua graça, a transformação que vem pela fé e pela caridade e não pelo medo, que tem prazo de validade e só produz uma consciência frustra.

Se esse deveria ser o critério da nossa pregação, que obviamente inclui o dia do juízo, os novíssimos etc., também existem critérios que nos ajudam a lidar com presumíveis profecias:

1) “Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo. Retende o bem. (1Ts 5,19-21). – Não considero correto desprezar toda profecia aprioristicamente, mas é necessário manter uma atitude de análise ativa e de criteriosa avaliação. Quem despreza tudo como se fosse humano, corre o risco de desprezar os alertas do Espírito Santo; assim como quem não examina, pode tributar ao Espírito os enganos dos homens.

2) “Falem dois ou três profetas, e os outros julguem” (1Cor 14,29) – No Novo Testamento, toda profecia demanda ser julgada; e esse juízo se faz a partir dos critérios da razão e da fé. É muito importante ter isso em consideração, pois muitos seguem cegamente uma orientação profética como se esta estivesse a salvo de influência humana, e não está. Já vi muitas pessoas caírem em engano por conta de sua obstinação, assim como já presenciei muito “autoritarismo profético”, de pessoas que se julgam “as ungidas” e as detentoras da revelação… Recebeu uma palavra? Analise! Pode ser que haja um fundo de verdade, alguma percepção verdadeira, mas nem tudo sempre é inspirado.

3) “Os que são guiados pelo Espírito de Deus esses são filhos de Deus” (Rm 8,14). – O cristão deve depender de Deus e não dos homens. Há muitas pessoas que vivem atrás de mil e uma profecias, de mil e um profetas, e se esquecem que o mais importante é orar, suplicando inspiração de Deus e maior conhecimento da Palavra, para, com a direção das leis da Igreja, tomar a resolução correta, por própria conta e risco. Muitas vezes, iremos errar de boa fé, mas Deus nos ajudará a corrigir a rota, pois o mais importante é depender dele mediante uma profunda vida de oração.

4) “Cuidai para que ninguém vos engane” (Mt 24,4). Falando sobre os tempos escatológicos, Jesus não mandou ninguém armazenar comida nem se preocupar com extravagâncias. Ele apenas alertou: tomem cuidado com o engano! O único remédio que podemos ter contra o espírito de engano é justamente o exercício contínuo do discernimento. Passe tudo pelo crivo da fé e da razão, pois Jesus alertou: “surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a anomia (isto é, a falta de norma, de lei, de moral), o amor de muitos esfriará” (Mt 24,11-12).

5) “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mateus 28,19-20). – A nossa missão é ir em busca dos perdidos e não ficar preocupados em salvar a nossa própria pele. Se nós pregarmos com toda força, se nos dedicarmos à evangelização, estaremos não apenas salvando a nós mesmos, mas salvando a muitos. Essa geração corrompida demanda de nós ímpeto de evangelizar! Esta é a nossa missão, não ficarmos impressionados e com medo.

Por fim, creio que não devamos nos deixar levar por sensacionalistas escatológicos. Há muitas profecias parcialmente verdadeiras, quer durante um tempo, quer em parte de sua mensagem. Colocar todo o peso nisso não passa de abuso da fé, pois a Igreja sempre nos ensinou que, fora a Divina Revelação, à qual tributamos fé teologal, todas as demais revelações são de fé humana e não se equivalem umas às outras em importância.

Se tivermos discernimento, não seremos impressionáveis nem nos desviaremos do cumprimento da nossa própria missão!

Padre José Eduardo

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